segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Tratamento de Cancer pelo SUS pode chegar à 4 meses de espera.

Em matéria publicada pelo Jornal O Tempo de Minas Gerais por Joelmir Tavares, mostra que o tempo de espera para atendimento no SUS de pacientes com Câncer, pode chegar à 4 meses de espera. Confira reportagem completa:


Agonia.Demora no atendimento após diagnóstico reduz chance de cura para quem depende da rede pública


Paciente com câncer espera até 4 meses por tratamento no SUS

Combate à doença deveria começar até 30 dias depois do diagnóstico

Certamente muita gente já teve pesadelos em que tenta se livrar ou correr de algo, mas se sente preso ou impotente diante do perigo. Para muitos brasileiros que estão com câncer e dependem do Sistema Único de Saúde (SUS) é como se esse pesadelo fosse realidade.

Enquanto luta pela sobrevivência, o paciente precisa encarar a agonia das filas. Para fazer radioterapia, por exemplo, o tempo de espera no ano passado chegou a quatro meses, aponta uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), divulgada no último dia 31. Cada dia perdido diminui as chances de cura e colabora para o avanço dos tumores.

As deficiências do SUS e as limitações no tratamento de câncer estiveram em discussão nas redes sociais nos últimos dias, depois que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva descobriu um tumor na laringe. Imediatamente, internautas iniciaram um movimento sugerindo que o político se tratasse na rede pública.

Sem considerar o tom político das críticas e as manifestações preconceituosas, há informações um tanto verdadeiras, um tanto falsas nos argumentos que circulam na internet. O Brasil ainda descumpre o parâmetro internacional que exige o início do tratamento no máximo 30 dias após o diagnóstico, mas é fato que o SUS triplicou os investimentos em oncologia nos últimos 12 anos. Em 2010, o setor recebeu R$ 1,8 bilhão, contra os R$ 470,5 milhões de 1999.

"Não estamos satisfeitos com as médias de tempo de espera atuais", reconhece o secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Helvécio Magalhães. Pelo levantamento do TCU, um paciente com câncer que precise de cirurgia no Brasil é obrigado a esperar, em média, três meses. Para quimioterapia, são dois meses e meio de fila.

O TCU não calculou a média de espera nos Estados e determinou prazo de 90 dias para que o governo federal apresente soluções.

Comparação


Avanço. No Reino Unido, 99% dos doentes começam o tratamento em menos de um mês.

Há duas décadas, o país estava na mesma situação do Brasil. O serviço foi melhorado com políticas públicas e investimentos.



________________________________________________________________________________

Carências variam de acordo com região


Era para ser um sinônimo de justiça e isonomia. Mas o Sistema Único de Saúde (SUS) carrega consigo as desigualdades do território nacional. Minas Gerais está em vantagem na comparação com alguns Estados. "Amapá e Roraima não têm sequer radioterapia", afirma o secretaria de Avaliação de Programas de Governo do Tribunal de Contas da União (TCU), Carlos Alberto Sampaio, que participou da pesquisa sobre o atendimento a pacientes com câncer na rede pública.

Em Belo Horizonte, onde muitos moradores do interior se tratam, ninguém espera por atendimento atualmente, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde. Há 6.475 pessoas em tratamento de quimioterapia e outras 1.021 em radioterapia.

Entre os pacientes ouvidos pela reportagem, alguns elogiaram o serviço nos hospitais da cidade. "O atendimento é muito bom. É como se fosse particular", disse a aposentada Sabina Maciel Teixeira, 56, que faz quimioterapia uma vez por mês no Hospital da Baleia. (JT)

__________________________________________________________________________________

Diagnóstico tardio é agravante


Quem depende do SUS precisa ser insistente para conseguir consulta.

Os primeiros sintomas foram dores no pescoço. Depois surgiu a rouquidão. A voz foi ficando cada vez mais fraca. O motorista de caminhão Wilson Antônio, 53, ignorou os sinais do corpo durante sete meses. Depois de muito ouvir os conselhos da mulher, resolveu ir ao posto de saúde perto de casa, no bairro Santa Mônica, na região de Venda Nova. De lá, foi encaminhado para o posto do Sagrada Família, na região Leste, de onde saiu com o diagnóstico: câncer de laringe.

Em 15 dias, com a doença em estágio avançado, Antônio estava na mesa de cirurgia. O motorista, que fumou e bebeu muito durante toda a vida, perdeu a voz. Passou a usar papel e caneta para se comunicar. As dores permanecem até hoje, um ano e meio após a operação, que lhe deixou um orifício no pescoço.

"Se eu tivesse ido ao médico antes, talvez não precisasse da cirurgia", lamenta ele, que está afastado do trabalho e há um mês começou a usar um aparelho que faz o papel das cordas vocais. O som emitido é robotizado e baixo.

Mas Wilson Antônio foi vítima da próprio descuido. Quando precisou da rede de saúde, teve diagnóstico rápido. A dona de casa Marilda Lúcia da Silva, 48, não teve a mesma sorte. Em 2007, o médico de um posto de saúde em Ibirité, na região metropolitana, disse que o exame de mamografia estava normal. Só que, durante o banho, Marilda descobriu um caroço.

De volta ao posto de saúde, ela teve que implorar por atendimento. "Se não fosse pela minha insistência, eu só ia conseguir ficha meses depois", afirma ela, que esperou dois meses após a cirurgia de retirada do tumor para começar a quimioterapia no Hospital da Baleia, na capital. Marilda ainda faz acompanhamento mensal.

Sem escolha. Os pacientes da rede pública dependem unicamente do atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS), seja ele bom ou ruim. Para o diagnóstico, a opção é só o posto público. Em alguns lugares, contam os pacientes, há médicos que sequer tocam o corpo da pessoa durante a consulta. Quando o câncer é confirmado, pagar pelo tratamento nem passa pela cabeça da maioria dos doentes. Falta dinheiro até para a passagem do ônibus e o lanche.

Em cidades menores, a situação é ainda mais grave. Morador de Jenipapo de Minas, no Vale do Jequitinhonha, o lavrador Sebastião Ferreira de Calda, 49, levou o filho Júnior, 6, ao posto três vezes até alguém desconfiar que as dores que a criança sentia poderiam significar algo mais sério.

"Estamos nessa luta há três anos. O Juninho já passou por quatro cirurgias. Uma foi para a retirada da bexiga, onde estava o tumor", conta o pai, que acompanha o menino nas consultas periódicas na capital.

Auditoria

Estrutura. O levantamento do TCU, feito com base em dados da rede pública e entrevistas com 200 médicos e associações, identificou um déficit de 135 equipamentos de radioterapia, 44 de cirurgia e 39 de quimioterapia no Brasil.

Nova unidade

Projeto. O Hospital Hilton Rocha, que tem reabertura prevista para 2012, na capital, vai oferecer 120 leitos exclusivamente para o tratamento de câncer. Além de prestar atendimento particular, a instituição vai aceitar pacientes de convênios.

_________________________________________________________________________________

"Na rede particular, a pessoa tem mais chance", diz médico

O médico oncologista Enaldo Lima, que atende em Belo Horizonte e foi um dos especialistas consultados pelo Tribunal de Contas da União (TCU) para o levantamento sobre o tratamento de câncer na rede pública, diz que os problemas do Sistema Único de Saúde (SUS) deixam os pacientes em desvantagem.


"Na rede particular, a pessoa tem mais chance de se curar e sobreviver", afirma. Lima diz que se sente "envergonhado" ao ver especialistas defendendo que o tratamento nos dois sistemas é semelhante. "As diferenças começam no diagnóstico, passam pelo encaminhamento e vão até o tratamento", explica.

Prevenção. Cerca de 30% a 40% dos tipos de câncer podem ser prevenidos, de acordo com Enaldo Lima. Evitar cigarro e álcool, fazer sexo seguro, manter peso adequado e se proteger dos raios solares são algumas das formas de fazer a prevenção. "Hoje se sabe que 75% dos tumores em adultos e 85% em crianças são curáveis se forem detectados no início", afirma.

__________________________________________________________________________________

Entrevista:

"Médico não estuda câncer na faculdade."


Aline Chaves

Presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica em Minas Gerais


Por que ocorre a demora no diagnóstico de câncer no SUS?

O sistema tem deficiências que fazem com que o paciente fique "rodando" de lugar em lugar, tentando marcar consultas e exames. O diagnóstico rápido é tão importante para o paciente quanto o início do tratamento.

Por que os médicos, muitas vezes, falham na detecção da doença?

Não se estuda câncer na faculdade. As faculdades precisam, urgentemente, incluir a oncologia como disciplina curricular. O câncer é a segunda causa de morte no Brasil. Além disso, o médico do SUS sofre pressão para atender 30, até 40 pacientes no mesmo dia.

A demora no início do tratamento é mais prejudicial para algum tipo de câncer?

Qualquer paciente fica em desvantagem com o atraso. A chance de cura diminui muito. Mas, para cânceres mais raros e agressivos, como os de pâncreas, cérebro, vias biliares e pulmão, a espera pode ser fatal.

Quais as soluções para melhorar o atendimento na rede pública?

Não há uma solução única. É uma questão multifatorial. É preciso investir em várias frentes e, principalmente, organizar o sistema. Só dinheiro não resolve. A gestão é fundamental. (JT)


_________________________________________________________________________________

Comentários


Levando em consideração todos os tipos de interesses nestes tipos de reportagens, sejam esses interpretados de maneira correta ou não, um fator relevante é o de que a saúde no Brasil ainda tem muito o que melhorar, e as atitudes a serem tomadas vão muito além de investirem mais e certo nos setores de saúde, que se encontram precários por diversas questões.

Seria falta de Gestão? Jogo de interesses? Essas e outras questões sempre são "jogadas à mesa" quando o assunto é saúde pública, porem o que realmente necessita é uma cobrança firme da população junto aos Líderes políticos e Órgãos Responsáveis, pois cabe a população cobrar, e aos responsáveis cabe ser ético e executar o "Bom trabalho" que o povo os incumbiu de realizar.



Tiago Alves Matias